sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Viagem inesperada...

O alto preço do sonho americano

Saudade de casa, jornadas excessivas de trabalho, pressão natural de quem vive em um país estranho. Os imigrantes brasileiros têm pago um preço muito alto pelo chamado ‘sonho americano’ e muitos deles buscam no vício (cigarros, bebida, remédios e outras drogas) o alívio para suas carências e decepções. “É difícil afirmar com certeza, até porque as pessoas muitas vezes não admitem suas fraquezas, mas acredito que a maior parte da comunidade brasileira nos Estados Unidos recorra ao uso de algum tipo de substância para enfrentar as dificuldades do dia-a-dia”, arrisca Denise Prado, voluntária e coordenadora do programa ‘Celebrando a Recuperação’, da Primeira Igreja Batista do Sul da Flórida, que lida com usuários químicos, alcoólatras e viciados em pornografia, entre outros tipos de dependentes.

Para os psiquiatras, isso já tem um nome próprio: ‘Síndrome de Ulisses’, um transtorno psicológico que atinge cada vez mais os imigrantes e que é provocado, principalmente, pela solidão, sentimento de fracasso e pela decomposição de um sonho. Muitos acreditam que a mudança para um novo país pode representar a felicidade plena e acabam sofrendo com uma realidade mais cruel do que a esperada, aproximando-os de artifícios para lidar com a frustração. “Realmente recebemos no programa homens e mulheres que admitem como início da dependência alguma decepção e os casos são mais comuns do que se imagina, especialmente em se tratando de alcoolismo, depressão e drogas pesadas”, admite Denise.

E ela pode falar com propriedade: há 20 anos morando nos Estados Unidos, essa mineira de Mantena já enfrentou uma barra pesada e, depressiva, chegou a tentar o suicídio. Hoje, se sente feliz em poder impactar a vida de outros através do ‘Celebrando’. O grupo, atualmente com 60 pessoas, se reúne semanalmente para trocar experiências sobre suas compulsões e debater acerca do que chamam de “oito princípios da recuperação”, uma lista de preceitos bíblicos que ajudam aos dependentes a se livrarem do vício (ver lista abaixo). Os encontros acontecem às quartas-feiras, entre 8 e 10 pm, na sede da Igreja.

Outro que também viveu momentos complicados foi o músico Rafael Faria, que apesar de também ter nascido numa família cristã, se envolveu com todos os tipos de drogas na juventude e chegou a ser internado numa clínica de reabilitação. “Foram momentos terríveis e sei que muitos da comunidade estão passando por isso aqui nos Estados Unidos, pois não vêem perspectivas para suas vidas”, disse o rapaz, que vive na América desde 2001.

Ao chegar ao fundo do poço, Rafael foi resgatado em sua própria casa, quando a mãe começou a organizar encontros da juventude, uma espécie de sarau com muito bate-papo. Nascia ali o Força Jovem, grupo que se reúne na Igreja Adventista do 7º Dia, de Fort Lauderdale, nas noites de sexta-feira e domingo, e tem o objetivo de transformar as vidas das pessoas através da linguagem universal da música. “Os brasileiros precisam entender que existe um caminho melhor do que as drogas, a bebida, os remédios”.

O psicoterapeuta Rodrigo Diniz, que já viveu nos EUA e recentemente escreveu um artigo sobre o que chamou de síndrome do imigrante com estresse, alertou para o crescente número de estrangeiros com problemas psicológicos. “Ao mudar de país, a tendência, especialmente para os indocumentados, é o sofrimento pela solidão, pela alimentação desregrada e pela falta de tratamento médico, até porque temem ser apanhados pelas autoridades”, disse o profissional da área de saúde, que há poucos meses passou duas semanas imerso na comunidade brasileira para coletar dados para seu trabalho e ficou impressionado com a quantidade de imigrantes em processo de autodestruição.

Para ele, na hora do desespero, é fundamental que as pessoas percebam que há outros que passam ou passaram pelo mesmo problema e que existe uma luz no fim do túnel. Daí a importância de grupos como o Celebrando e Força Jovem. “Admitir a doença, para si e para os outros, é o primeiro passo para a recuperação dos vícios”, diz Rodrigo.


Os 8 princípios do Celebrando a Recuperação

Reconheço que não sou Deus. Admito que sou impotente para controlar minha tendência de fazer as coisas erradas e que a minha vida está fora de controle.


Eu acredito de todo o coração que Deus existe, que Ele se importa comigo e que tem o poder de me ajudar em minha recuperação.


Conscientemente escolho confiar toda minha vida e minha vontade aos cuidados e controle de Cristo.


Unilateral e abertamente analiso e confesso todas as minhas falhas a mim mesmo, a Deus e a alguém da minha confiança.


Peço, humildemente, que Deus remova meus defeitos de caráter e, voluntariamente, me submeto a cada mudança que Ele queira fazer em minha vida.


Examino todos os meus relacionamentos, oferecendo perdão àqueles que me fizeram mal e reparando os danos que causei a outras pessoas, exceto quando fazê-lo provocaria mais danos a essas pessoas ou a terceiros.


Reservo, diariamente, um tempo com Deus para auto-avaliação, leitura da Bíblia e oração, a fim de conhecer a Deus e a Sua vontade para minha vida e obter a força para segui-la.


Anuncio, tanto pelo meu exemplo como pelas minhas palavras, estas Boas-Novas a outros, conforme agradar a Deus me usar.



Por Carlos Wesley - AcheiUSA Newspaper

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